quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Apodos Populares

(...) Os apodos e ditérios populares, bem como o cancioneiro geográfico e lirico, são elementos indispensaveis em estudos etnográficos, donde a necessidade de resgistarmos aqui os concernentes ao Vimioso que pudemos alcançar.
A primeira quadra é usada como estribilho em terras de Miranda, Mogadouro e Vimioso.



Vindo da Senhora do Nazo
Com minha gaita e bordão
çamarra e çamarrão
A ponteira dizia q'eram e são:


A Quinta de los Picadeiros
Já só é de los granjeiros (1)
Vila Chã de la Ribeira
Já só é de la nogueira.


Mais abaixo fica Uva
São João de la Cura (2)
E Vale de Algoso
Com se chão lamoso.



Uva, Mora e Fonte Ladrão
Três lugares eram e três lugares som
Ainda que os juntem todos três
Não fazem um bom.


Os alhos são de Matela,
As panelas de Avinhó,
Os cucos da Paradinha,
E os bubelos de Paçó.


Os alhos são de Matela,
As porretas da Junqueira (3)
Os grilos de São Martinho
e os nabiceiros da Teixeira.


Fumadores de Algoso,
Curtidores de Carção (4)
Tendeiros do Campo (5)
Bugalhudos de Santulhão (6)


Letrados de Vimioso,
Os de Pinelo são boieiros,
Surradores de Argoselo (7),
Em Vale de Pena carvoeiros.


Os gaiteiros são d'Angueira,
De Avelanoso os carvoeiros
E de Serapicos os raticos;
De São Joanico os sapateiros
E de Vilar Seco os'scrinheiros (8)


Bailantes de Vale de Frades (9)
Em Caçarelhos mocidade;
Os de Vimioso são letrados,
Como todo a gente sabe.


De Travanca burra branca
Três bruxas e um calcanhar;
Abre a porta e cerra a porta,
Menina, vai-te deitar.




(1) Outra variante diz: braigeiros.
(2) Refere-se à capela de São João Baptista, no termo de Algoso, célebre pelos milagres que fazia.
(3) Outra variante diz: os mocicos.
(4) Outra variante diz: batoteiros e também: Bem-aventurados são os que não têm contas com os de Carção.
(5) Outra variante diz: cardadores. 
(6) Outra variante diz: bons homens; quem quiser a boa gente vá por ela a Santulhão.
(7) Outra variante diz: peliqueiros.
(8) Segundo diz a lenda este apodo proveio de quererem apanhar a lua, supondo que era queijo, construindo para lhe chegar uma torre de escrinhos.
A obra crescia a olhos vistos; só faltava um para chegar ao queijo, mas a verga acabara e, neste aflitivo transe, alguém lembrou que se tirasse o escrinho do fundo, visto não fazer falta, e se colocasse no cimo.
Óptimo, proclamaram todos, e assim se fez, mas a torre esbarrondou-se e Vilar Seco apanhou apenas o apodo de que deve rir-se e não irritar-se, pois são muitíssimas as povoações tanto no distrito de Bragança como por todo o Portugal (no estrangeiro acontece o mesmo), que têm apendículos por este teor. (9) Outra variante diz: rapazes.
(...)

ALVES, Francisco Manuel; AMADO, Adrião Martins. Vimioso. Notas monográficas. Coimbra: 1968.

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